Desconcentrado - Parte IV
- Bacchus Creators
- 31 de out. de 2024
- 5 min de leitura

Carlos respirou fundo enquanto esperava o elevador Sua mente estava dividida entre a antecipação e a hesitação. Caminhou alguns passos do elevador até a porta, respirou fundo novamente e tocou a campainha. Quando a porta se abriu, foi recebido não por Kike, mas por sua namorada. Ela o encarou com um olhar suave e penetrante, um leve sorriso nos lábios. Havia algo de provocante no jeito que ela o olhou, e isso o pegou de surpresa. Ele não estava preparado para isso. Seus olhos o avaliavam, estudando-o, e ele sentiu o rosto esquentar sob o olhar dela.
“Entra,” ela murmurou, dando espaço para ele passar enquanto mantinha um olhar atento. Carlos tentou focar em seus arredores, mas sua mente já girava, confusa com o que aquilo poderia significar. O ar parecia pesado, carregado com algo não dito. Ele deu outra olhada nela enquanto ela fechava a porta, notando o jeito deliberado de cada movimento, como se cada gesto carregasse uma intenção que ele não conseguia decifrar.
Ela começou a conversar com ele, dizendo que estava feliz que ele tinha vindo. Sem reação, ele murmurou uma resposta breve. Kike então apareceu. Sua expressão era tranquila, como se estivesse confortável com a presença dele. Mas seus olhos tinham um brilho, um olhar que dizia a Carlos que ele tinha expectativas. A voz de Kike era quase baixa, mas com uma confiança que o intimidava.
- Bem, você sabe o motivo pelo qual te chamamos aqui.
Ele não respondeu, e olhou para a namorada dele, como se estivesse esperando por ajuda. Kike continuou. “Notamos a forma como você olhava para a gente, Carlos,” ele disse, um leve sorriso surgindo em seu rosto. “Era bem óbvio que estava interessado.”
Carlos sentiu o coração disparar no peito. Ele queria se justificar, explicar, mas as palavras lhe faltaram. A confissão ficou suspensa no ar, audaciosa e inegável. Ele abriu a boca para dizer algo, mas Kike continuou: “Sabe, primeiro a gente achou que você olhava só pra ela.” Kike lançou um olhar para a namorada, que retribuiu com um sorriso discreto. “Mas então eu percebi que você olhava pra mim também. Sempre com aquele olhar interessado.”
Carlos abaixou o olhar, envergonhado, sem saber como reagir. Kike deu um passo à frente, os olhos fixos nos dele. “E a gente pensou… pra começar,” Kike falou, uma nota de diversão em sua voz, “que talvez você pudesse só assistir. Pra se acostumar com a nossa presença.”
A sugestão acendeu algo em Carlos, seu corpo inteiro reagindo àquela ideia. Assistir. Aquilo o fazia sentir um arrepio percorrer a pele, o desejo mesclado com a vulnerabilidade de estar ali, sendo tão transparente. Ele assentiu com a cabeça, sem conseguir pensar em algo para dizer, sentindo o rosto esquentar mais ainda.
Ele se sentou na ponta do sofá, quase automaticamente, as mãos apertadas sobre os joelhos. Kike e sua namorada trocaram um olhar antes de se aproximarem um do outro, seus corpos se encostando de forma íntima, natural. Carlos tentou desviar o olhar, mas não conseguiu. Cada toque, cada sussurro o prendia, fazendo-o se sentir como um intruso e um participante ao mesmo tempo.
A sala se encheu de sons suaves: um suspiro ali, um murmúrio acolá. Carlos sentiu o pulso acelerar, a respiração se tornar rasa enquanto os observava. Seu olhar se fixava no corpo de Kike, traçando as curvas de seus músculos, o calor da sua pele e a intensidade em seus olhos. Cada parte de seu ser queria estar onde ela estava, sentir aquela proximidade, ser o alvo daquele toque.
Conforme a paixão entre eles aumentava, Carlos sentiu a pontada familiar do ciúme. Seus pensamentos ficaram mais ousados, mais vívidos. Ele se imaginava no lugar dela, sentindo o calor de Kike contra sua pele, a força de suas mãos, o peso de seus lábios. O ciúme era afiado, visceral, preenchendo-o com um desejo que quase doía.
Um leve suspiro escapou dele antes que pudesse se conter, e ele rapidamente abaixou a cabeça, com medo de que tivessem notado. Mas eles estavam perdidos um no outro, alheios à sua presença, permitindo que ele ficasse escondido à vista, suas fantasias intocadas. Suas mãos se fecharam em punho, o desejo se intensificando a ponto de ele mal conseguir se manter quieto. O desejo era quase insuportável, uma ânsia persistente que crescia a cada vez que seu olhar retornava para Kike.
Finalmente, eles pararam, e Kike lançou um olhar para Carlos. Foi só um breve olhar, mas, naquele momento, Carlos se sentiu exposto, como se cada pensamento, cada desejo secreto tivesse sido revelado. Ele se mexeu desconfortavelmente, tentando disfarçar seus sentimentos, mas o sorriso sutil de Kike lhe dizia que já era tarde demais.
Depois de um momento, Kike falou, sua voz baixa, mas firme. “Acho que a gente precisa marcar a próxima vez,” disse ele, como se estivesse combinando um café ou um jantar casual. A simplicidade, o tom informal, pegou Carlos de surpresa. Sua mente tentava entender, processar o que Kike estava sugerindo. Aquilo não era um encontro único, um momento isolado. Era um convite—uma promessa.
Carlos assentiu, engolindo em seco, o coração batendo forte enquanto tentava encontrar as palavras certas. Mas sua mente estava envolta numa névoa de emoções, dividida entre o desejo de ficar e a necessidade de partir. “Sim… próxima vez,” murmurou, sua voz quase inaudível. Ele olhou para Kike e depois para a namorada, sentindo uma estranha desconexão. Aquele não era o seu mundo, não de verdade. Ele estava apenas… de passagem.
Um silêncio pairou entre eles, e Carlos sentiu o momento escorregar, desvanecendo-se em algo menos intenso, mais real. Ele se levantou, limpando a garganta, sentindo a estranheza envolvê-lo como um peso. “Bom… acho que vou indo,” disse ele, forçando um sorriso. A formalidade da despedida, a estranheza das palavras, parecia fora de lugar, como um lembrete súbito de tudo o que acabara de testemunhar.
Eles se levantaram para se despedir, e Carlos hesitou, estendendo a mão por impulso. Ele apertou a mão de Kike primeiro, o toque breve e frio, depois se virou para a namorada, repetindo o gesto. Ela segurou sua mão com firmeza, seu olhar fixo nele por um segundo a mais do que o necessário.
Quando saiu, a mente girava com tudo o que acabara de acontecer, as camadas de desejo, ciúme e confusão envolvendo-o como uma névoa. Ele não sabia se se sentia eufórico ou vazio, se queria voltar ou fugir o mais longe possível. Tudo o que sabia era que aquela noite havia mudado algo dentro dele, despertado algo profundo que ele teria que encarar, quer estivesse preparado ou não.
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