Desconcentrado - IX
- Bacchus Creators
- 18 de dez. de 2024
- 3 min de leitura

Carlos sentiu o seu corpo paralisado. Não teve reação alguma ao ver Kike, e pensou que aquilo foi obviamente armado para acontecer. Porém logo sua atenção foi tomada pela voz de Rafaela, que exclamava alto:
O que é que você tá fazendo aqui agora?
Kike, parado na porta olhou para ele, depois para ela, e disse:
Eu moro aqui. O que é que ele está fazendo aqui?
Por um momento Carlos não sabia se aquilo era uma piada, uma encenação barata, ou se de fato era um confronto.
Eu tô dando uns beijos no Carlos, o que você acha que ele está fazendo aqui?
E você convidou ele?
Kike parecia confuso, mas ainda não tinha entrado no apartamento. Carlos se adiantou e começou a se arrumar, sentindo uma raiva que não sabia nomear. Estava com raiva de ser envolto nesses jogos, estava com raiva da interrupção, estava com raiva da Rafaela existir e estava com raiva de si mesmo, de ter se deixado seduzir por este jogo. Não queria demonstrar seus sentimentos, e uma parte dele queria ver até onde eles levariam aquela conversa.
Claro que sim, né! Seu tonto! Você acha que ele ia estar aqui como?
E qual foi o motivo de você não ter me contado? Queria fazer uma surpresa?
Ele notou que Kike parecia cada vez mais irritado. Porém estava cansado de tudo aquilo. Olhou e viu as taças de vinho. Ela queria ir mais devagar não para conhecê-lo melhor, mas para ter certeza que o namorado dela fosse encontrar os dois juntos. Enquanto mais pensava, mais conseguia ver um caráter de premeditação. Ele se dirigiu à porta e disse olhando para ele:
Olha, eu não sei quem vocês acham que estão convencendo. Eu vou embora, e peço pra que vocês não me procurem mais.
Kike olhou para ele confuso, e respondeu:
O que você quer dizer com convencer?
Eu sei que vocês combinaram isso nas minhas costas pra me fazer de trouxa. - Ao terminar essa sentença, sentiu que tinha dito mais do que gostaria. Porém continuou - Sei que a Rafaela não quer ficar comigo, sei que ela notou que eu olhava pra você na academia e te convenceu a me chamar aqui pra ver vocês transarem. Ela quer que eu sinta inveja dela, ela quer esfregar na minha cara que você é dela, e que pra eu chegar perto de você, eu preciso chegar perto dela.
Rafaela interviu, enquanto Kike ficou boquiaberto.
Carlos, é isso que você pensa de mim? Que eu ia te chamar aqui só pro Kike chegar e pegar a gente?
É exatamente isso que penso, e exatamente isso que aconteceu.
Não era pra ele ter vindo pra casa agora. Ele ia num bar com o irmão dele e os amigos do irmão dele. Por isso que te chamei pra vir aqui hoje.
Kike continuava na porta. Ele respirou fundo e disse:
Olha, eu acho melhor deixar vocês dois conversando, depois eu falo contigo Rafaela.
Com isso, saiu e bateu a porta. Carlos não podia acreditar no que havia acontecido. Ele, em um ímpeto, disse tudo o que queria. Mas a que custo? E o que ia fazer com Rafaela agora, depois de ter dito tudo aquilo sobre ela? Ele virou o olhar pra ela, que estava visivelmente consternada.
Carlos, desculpa por eu ter te passado essa péssima impressão de que estamos brincando com você. Eu juro que eu tinha planejado esse momento só pra nós dois.
Rafaela, olha, eu já falei mais do que eu devia hoje tanto pra você quanto pro Kike.
Ela olhou pra ele, e havia algo em seu olhar que era diferente. Ela parecia menos confiante, mais frágil.
Eu não vou pedir pra você esquecer tudo o que aconteceu, mas posso te fazer um pedido? Posso pedir pra você ficar aqui terminar essa garrafa de vinho comigo? A gente conversa e lava essa roupa suja agora.
Carlos não esperava por este convite. Essa menção de conversar e esclarecer as coisas o tomou de surpresa.
Carlos, eu não vou implorar, mas depois de tudo o que você disse sobre mim, eu quero me defender e te explicar o que está acontecendo.
Ele olhou para ela, pegou a taça de vinho e se ajeitou no sofá.
Então me explica o que está acontecendo, por favor....
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