Desconcentrado - VII

Carlos não conseguia desviar o olhar da mensagem enviada por ela. A ousadia o deixava desconcertado. Ele sabia que precisava responder, mas sua mente estava um caos. Não podia ser grosseiro, mas também não queria incentivá-la.

“Você é linda”, escreveu ele, hesitando por um instante antes de apagar. “Você é muito bonita.” Ele releu, ainda insatisfeito. Respirou fundo e, finalmente, enviou:“Você é incrível. Kike tem sorte.”

Ele podia ver que ela tomou seu tempo para compor uma resposta para ele:“Você acha? E a foto? Não vai mandar?”

Por um momento ele considerou o quão cruel era aquele jogo. Sentiu-se encurralado como um animal de laboratório. Eles gostavam da atenção dele, mas gostavam dele? E o que dizer do que ele gostava e queria? Estava claro que ela estava flertando, mas havia algo mais nas entrelinhas, como se ela estivesse testando sua reação. Carlos sentiu o coração acelerar quando se viu sentado, com a galeria de fotos abertas, tentando escolher uma foto para enviar para ela. Ele tinha tido muito pouca intimidade com mulheres, e a sua motivação era claramente Kike. Mas havia algo instigante naquilo, uma possibilidade. 

Ele enviou uma foto sem camisa, sentado no sofá, com seu abdômen em foco e a ponta de seu pênis aparecendo, quase tímido e envergonhado. 

Ela demorou mais para responder desta vez, e cada segundo parecia uma eternidade. Quando finalmente a notificação apareceu, ele sentiu um frio na barriga: “Você não confia em mim”

Ele engoliu em seco. A mensagem era direta, mas carregava uma verdade que ele não sabia como encarar. Se o pedido tivesse vindo dele, ele teria enviado uma outra foto muito mais explícita e direta. Não queria ofendê-la, mas também não queria dar a impressão errada. Porém, querendo ou não, ele já havia causado uma má impressão. Pensou em o que responder, e depois de muitas tentativas, conseguiu exprimir um elogio e uma frase honesta.

“Vocês são incríveis. Não sei onde eu me encaixo nisso tudo.”

Isso foi o que conseguiu escrever sem se expor demais. Carlos fechou o aplicativo de mensagens e largou o telefone por um momento, tentando recuperar o fôlego. Tudo isso era intenso demais, e ele não sabia se estava preparado para o que viria depois.

Ele decidiu se ocupar tomando um banho. Fechou seus olhos, sentiu a água correr e logo se viu imaginando tomando um banho com Kike. Queria aquele homem, e teria que arrumar disposição para fazer aquilo acontecer, de uma forma ou de outra.

Secou-se, e viu que não havia novas mensagens para ele. Abriu o aplicativo de qualquer forma, e viu uma mensagem que não havia respondido. Era um amigo seu oferecendo suplementos de academia. Sua mente, porém, foi criativa e rápida, e teve uma ideia.

Decidiu mandar uma mensagem para ela.

“Oi, vamos começar tudo de novo. Eu nem sei seu nome. Eu sou Carlos, eu sei que você namora, mas queria sair com você, e só com você. Você topa?”

Rapidamente ele viu a sua mensagem ser respondida:

“Agora sim estou falando com um homem. Muito prazer, eu sou a Rafaela. Eu aceito seu convite sim, mas antes eu quero ver essa foto que você ainda não me mandou”.

Sim, seu plano mental havia dado certo. O que faria era então entrar naquele jogo, mas faria isso em seus termos. Abriu sua galeria, achou uma foto que havia tirado com seu membro ereto, e enviou para ela.

Em uma questão de pouco mais de um minuto, recebeu uma resposta dela, com alguns emojis e uma palavra: delícia. Essa era a primeira vez em mais de uma década que tinha recebido um elogio sexual de uma mulher. Havia algo diferente naquilo, e era bom. Logo trocaram mensagens e combinaram de se encontrar em dois dias, no apartamento do casal.

Pegou o celular na mão novamente para mandar uma mensagem para seu amigo, mas lembrou-se se algo. Todo o seu processo de pensamento se repetiu. Quando viu a foto de seu amigo, lembrou-se que poderia tomar um estimulante sexual para se encontrar com Rafaela. Com isso ele cumpriria sua parte sem preocupação, e para não deixar explícito que só estava fazendo isso para poder se aproximar de Kike, resolveu encontrá-la sozinha dessa vez. Agora estava agendado. Só precisava comprar, usar e fazer esse momento acontecer.

Nunca tinha tomado um estimulante sexual, e decidiu testar um dia antes, para ter certeza que seu plano funcionaria. Em menos de trinta minutos já sentia que estava pronto para uma noitada. Era isso. Seu plano funcionou...